Eu me lembro que desde nova eu sempre tive dificuldade em fazer escolhas.
Por fora, mantinha a casca decidida, forte, inquebrável. Mas por dentro eu sofria demais! A cada escolha que eu tinha que fazer, era muito difícil. Tão difícil que chegava a ser doloroso.
Escolher um sabor de sorvete.
Escolher uma mochila para a escola.
Escolher qual roupa colocar.
Até ai, tudo bem. Eram escolhas que eu poderia voltar atrás. Tomar um outro sorvete da próxima vez. Trocar a roupa se não ficasse legal.
A primeira escolha realmente dolorosa que fiz foi escolher um curso de faculdade. Eu sempre achei uma ideia absurda nos fazer escolher uma profissão aos 17 anos. Imprudente até. A gente sai de uma posição de ingenuidade para experimentar a vida adulta assim, de uma hora pra outra.
Dai, veio minha primeira dificuldade: eu não me encaixava em nenhum curso padrão.
Não me imaginava médica, dentista, advogada, professora.
E por muitas vezes, me questionava se eu daria certo na vida, se eu tinha alguma vocação.
A única luz que veio na minha cabeça naquela época é que eu gostava de me comunicar (e digo isso muito superficialmente, porque na época, eu não imaginava que daria pra eu me comunicar sem dizer uma palavra).
Escolhi o curso. Por fora, eu estava decidida: Publicidade e Propaganda. Por medo de ter que fazer ainda mais escolhas, prestei dois vestibulares apenas. Era doloroso demais escolher.
Prestei, passei, cursei e me formei. Publicitária!
Toda minha faculdade, a fotografia sempre esteve presente, trabalhava muito, gostava do que fazia, mas eu via que lá na frente eu ainda teria que escolher.
Consegui um estágio na minha área de formação. E não há como negar: ser publicitária é diferente, é desafiador, é envolvente.
Lembro que uma vez fui para São Paulo conhecer o Google e duas agências de publicidade. Eu fiquei encantada, percebi minha pequenez no mundo, como eu era ingênua ainda, crua.
Na volta dessa viagem eu passei pensando: a minha escolha está cada vez mais próxima.
E estava de fato. Lá em São Paulo foi minha epifania: não dá pra ser extraordinária em todas as coisas. Eu preciso ceder. Eu preciso escolher.
E continuei, seguindo meu coração e minha razão. Dando meu melhor em ambos e ficando extremamente cansada emocionalmente e fisicamente também.
Era uma jornada CLT de 44 horas semanais. Durante a semana eu editava fotos até meia noite e aos finais de semana eu trabalhava. De segunda a segunda. Assim foi por muitos anos.
Mas minha grande virada de chave foi na pandemia.
Fechou tudo. Todos os eventos cancelados. Agenda vazia. Reserva de emergência vazia. Fim do túnel.
Mas eu sabia que eu não podia escolher naquele momento. Eu precisava lutar mais, precisava encontrar realmente minha vocação. Eu precisava me preparar para poder escolher.
E foi na escuridão que a luz do meu coração pulsou. Ressignifiquei não só a fotografia, mas a minha vida.
A mudança foi interna, antes de externa. Foi genuína.
Assumi o meu papel no mundo. Vi o que as pessoas precisavam ver, sentir e viver. E vi que eu precisava exatamente disso também.
E ao contrário do que foi na minha vida toda, a escolha mais importante que tomei até hoje, não foi a mais difícil, mas sim a mais fácil: eu escolhi seguir o meu propósito.
Eu escolhi escutar meu coração, escutar pessoas, escutar o silêncio e traduzi-lo em imagens.
E foi a escolha mais deliciosa de toda minha vida.
Escolho diariamente você. Escolho estar aqui, escolho me expor, escolho não me expor.
Tantas escolhas que não mostro aqui. Mas cada uma delas importa.
Não estou aqui pra dizer que agora tudo é fácil. É até mais complicado. A gente quer ser assertivo, certeiro e isso até nos bloqueia de tentar.
É uma luta diária lutar contra a auto sabotagem, contra a nossa auto imagem.
E sim, tem horas que vem na minha cabeça: será que estou fazendo certo?
Mas daí, a resposta vem em uma segunda feira de manhã, onde eu só consigo ser grata por tudo que construí até aqui.
A resposta vem nas coisas mais simples, nos momentos mais rotineiros.
Eu não escolhi a fotografia. Foi ela que me escolheu.
Graças a Deus.